À procura de Abril
De tudo o que Abril abriu
Já muito se disse.
Muito pouco se fala
Deste sufoco que nos cala
Destes rios sem mar
Deste roer por dentro
Deste moer até ao sonho
O passado voltou disfarçado de futuro
Deram-nos com o machado mesmo no centro do pensamento
É tão imenso este tormento
Em marés calmas
O que é feito das nossas almas?
Nós já não voltamos em Maio
Perdemos os ritmos da terra,
Os cheiros do mar
Não sabemos voar.
Utopia é não querer ver
Que a utopia morre todos os dias
Nos grandes centros onde
Nos escondemos da nossa dor
E transvestimo-nos
de seres sem
Tempo ou saudade.
Já ninguém semeia canções ao vento
A esperança enfiou-se numa caixa
E dorme o dia inteiro com este tédio ao lado.
Mestre Paulo Pereira
P.S. Poema para o meu filho que vai nascer.